En busca del cóndor brasileño
A partir da cidade de Corumbá, no
estado de Mato Grosso do Sul montamos nosso ponto de partida. Conhecida como a
cidade branca, a porta por assim dizer, do Pantanal é aqui. Encontramos no
porto o barqueiro, um policial ambiental aposentado que conhece bem a região, e
que nos indicaria o caminho das águas pelo rio Paraguai, principal via de
acesso onde queríamos chegar. Nosso destino é a Serra do Amolar e posteriormente
o Rio Jaurú. Hoje o PUB está na fronteira com a Bolívia, bem na divisa dos
estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a 300 km de Corumbá. Com mais de
oito horas de barco, quatro paradas e muitos animais avistados, subimos o rio.
A Serra do Amolar (Foto: Ecoa)
A Serra do Amolar possui
uma formação homogênea dentro da planície pantaneira. Suas morrarias, como
chamam as cordilheiras por aqui, e serras, com cristas desgastadas e
pontiagudas, atingem altitudes elevadas entre 1.200 a mais de 1.600 m, formadas
por um complexo mosaico geológico. Vemos aos pés dos morros a planície inundada
e ao mesmo tempo se contempla os campos rupestres, típicos de regiões
montanhosas, sem sombra de dúvidas, um dos mistérios do Pantanal. Pela
região, além de poucos ribeirinhos, vivem os índios Guatós. Exímios dominadores
da arte de navegar e que possuem ancestrais arqueológicos datados com mais de 3.000
anos. Na região do Amolar a intensidade das águas limita até a presença dos
animais. São encontrados ali mamíferos como ariranhas, marsupiais, capivaras,
cervos, antas, raposas e a onças pintada e parda. Muitos peixes e aves também
são encontrados por La. Porém nosso objetivo nesta expedição é observar a
provável presença do Condor dos Andes (Vultur
gryphus) no território brasileiro e constatar também a presença do
majestoso Urubu rei (Sarcoramphus papa)
para a região. Nosso segundo destino foi chegar até onde desemboca o Rio Jaurú,
já no estado de Mato Grosso. O rio
nasce na Chapada dos Parecis, próximo ao nascente do rio Guaporé e de vários
rios do curso alto do rio Juruena. O rio Jauru corre em direção sul, passando
pelo município de Porto Esperidião, então gira para direçao sudeste para
desembocar na margem direita do rio Paraguai cerca de 61 km abaixo da cidade de
Cáceres, no que compreende o 497 km do Rio Paraguai já na área do Pantanal.
O Pantanal e Rio Paraguai
A Serra do Amolar ao fundo
Esta expedição de uma equipe formada por técnicos ambientais e
biólogos do PUB percorreu aproximadamente
1000 mil quilômetros dentro do Pantanal durante quinze dias entre os meses de
março e abril para mapear locais onde pudessem ser avistados espécimes de
Condor dos Andes e Urubus rei para que isso contribua com a conservação da
região da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai e tentar, de certa forma, indicar um novo
registro documentado para a ocorrência de Vultur
gryphus para o território brasileiro. O Condor foi relocado para a lista
secundária das espécies de aves brasileiras devido a falta de informação
precisa de sua ocorrência para o território nacional. Veja abaixo os dados
referentes às ocorrências conhecidas pelos pesquisadores:
Ano de divulgação – 1979.
Fontes básicas – Sick (1979), Sick
(1985:81, 200).
Localidade original – Região do
rio Jauru, a oeste de Cáceres (MT).
Autor do registro – Arne
Sucksdorff.
Data do registro em campo –
Maio/junho de 1974 (Sick 1979); maio de 1973 (Sick 1985).
Súmula – A informação original
sobre a ocorrência dessa espécie no Brasil foi fornecida a H. Sick pelo
fotógrafo sueco Arne Sucksdorff (autor de Pantanal, um paraíso perdido?
Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985), que residiu em Cuiabá por
cerca de 20 anos. Sick (1979) relatou que "a ‘Ilha dos Urubus’, no rio
Jauru, é visitada por condores no início da estação seca".
Citações por compilação – Ruschi
(1980), "acidentalmente no Brasil, zona limítrofe com a Bolívia", sem
mencionar a fonte; Brown (1986:143), como residente [embora a fonte básica
informe textualmente que a espécie visita a região na estação seca]; Altman
& Swift (1986:6); Altman & Swift (1989:6); Sibley & Monroe
(1990:316); Willis & Oniki (1991:10); Dubs (1992:22); Sick (1993:150);
Forrester (1993:33, 121); Altman & Swift (1993:6); IBAMA (1994:78); Andrade
(1995:6); Parker et al. (1996:200); Sick (1997:135, 223). [Embora as
fontes Sick (1985, 1993) constem das referências do texto específico de V.
gryphus em Houston (1994:41), o Brasil não foi incluído na distribuição
geográfica da espécie.]
Registros posteriores – (1) No
final da década de 1920, um exemplar foi abatido por militares da 5a
Companhia de Fronteira nos arredores de Sete Quedas, Guaíra, PR, segundo
informação do Tenente-médico José de Azevedo Câmara (per Almirante Ibsen
de Gusmão Câmara, outubro de 1989, em Straube et al. 1991). (2) Um
exemplar fossilizado foi encontrado em uma caverna na região da Lagoa Santa,
MG, segundo Alvarenga (1998). (3) Uma "grande ave, com a cabeça careca,
comendo carniça e maior que o urubu-rei", observada pelo seringueiro
Osmildo Gomes na Reserva Extrativista do Alto Juruá, AC, foi identificada como
sendo um V. gryphus pelo entomólogo Keith S. Brown Jr. (relatório
inédito, 1997).
A equipe do PUB dividiu o
percurso em duas rotas. São mais de 860 km dentro do Pantanal em Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul. Uma área que também abrange a fronteira verde com a Bolívia.
Foi na Fazenda Novos Dourados, no Amolar, que fizemos o nosso primeiro pouso deste
projeto ousado. Contamos com a simpatia e acolhimento dos pesquisadores locais
que trabalham nesta reserva “RPPN” de uma grande empresa nacional que é
gerenciada pelo Instituto Homem Pantaneiro, ONG local.
A Base de monitoramento em Novos Dourados
A lagoa Mandioré
(divisa com a Bolívia e a Serra do Amolar ao fundo)
Da fazenda, partimos para a morraria em busca de nosso objetivo. O
caminho estava completamente inundado, e foi possível a observação de diversos
animais silvestres. Além de porcos do mato, observamos antas, veados e um gato
mourisco, além dos esturros de uma onça pintada. Neste trecho conseguimos
visualizar nove indivíduos de Sarcoramphus
papa. Os animais, que voavam bem alto, já contornaram os picos montanhosos e
depois desaparecendo como que com vergonha de nossa presença. Este tipo de situação
imprevisível faz parte do trabalho de estudo da expedição. O que valeu foi o
nosso primeiro contato e a esperança de melhores avistagens.
Cathartes aura
Sarcoramphus papa
Retomamos o caminho das águas pelo Rio Paraguai e seus meandros. Muitos
barcos de pescaria, verdadeiros navios de cruzeiro, pareciam brotar do nada para
chegar aos seus objetivos. A casa do produtor pecuário conhecido como seo
Waldemar, que vive na região a pelo menos 50 anos, é um ponto de passagem para
quem vai se embrenhar no Pantanal do Amolar. Simpático e hospitaleiro nos
convida para uma prosa com Tereré e muito chamamé. Logo na recepção, que é
feita com muita hospitalidade, o pessoal da expedição já começa a tentar
entender um pouco a história da família e se preparam para o almoço, um
verdadeiro banquete preparado por sua mulher, que vive a maior parte do tempo
em Corumbá. Depois do almoço sob a sombra fresca, às margens do Rio Paraguai,
Seo Waldemar explica como é a lida de quem depende do Pantanal e os lugares
misteriosos que indicam que a cidade perdida de “El Dorado” é ali. Aproveitamos
também para conhecer sobre a fauna local e o que se encontra no morro de quase
dois mil metros de altitude no fundo de sua fazenda. Aproveitamos para fotografar
alguns Cathartes e uns Coragyps que repousavam por lá.
Cathartes aura repousando na margem do Paraguai
A Fazenda do Seo Waldemar
Os caminhos no Pantanal mudam conforme nos deslocamos. Quando
chega a “enchente negra” é sinal que vem o fenômeno conhecido como “Decoada”
onde as margens dos rios são feitos de atalhos de peixes vivos, que nos causou
certa impressão. Aproveitamos para tentar ver se algum de nossos procurados da
vez apareciam...porém somente os Coragyps
se banqueteavam com os peixes moribundos, cena impressionante.
Coragyps atratus comendo peixes da "Decoada"
Peixes moribundos
Enfim a nossa equipe chega na desembocadura do Rio Jaurú. Após um
período longo de viagem não conseguimos avistar o nosso querido Condor.
Caminhamos pelas margens, trilhas e rio de ponto em ponto e somente conseguimos
observar mais quatro indivíduos de Sarcoramphus.
O tempo acabando, mas não desanimando. Para nossa surpresa conhecemos o pescador conhecido como Seo Chico, com sua
raiz Guató, faz parte da terceira geração da pescadores que vive no Pantanal, e
nos disse ter encontrado um tempo atrás uma pena enorme que segundo ele poderia
ser da asa de um urubu, porém nada verídico e sem a comprovação que precisávamos.
Mas a pena é enorme mesmo e está com um pedaço cortado.
O sensacional "Seo Waldemar"
O incrível "Seo Chico"
Foram pelo menos 18 indivíduos de Urubus rei (Sarcoramphus papa) outros inúmeros Urubus de cabeça preta (Coragyps atratus), Urubu de cabeça
vermelha (Cathartes aura) e o Urubu
de cabeça amarela (Cathartes burrovianus).
Dependendo da região, a paisagem é completamente diferente e o jeito de lidar
com a natureza também. Nos últimos dias nem sinal do nosso objetivo principal.
Mas isso não nos desmotiva, mas sim nos dá forças para que algum dia consiga
encontrar o nosso sonhado Condor dos Andes em nosso território nacional. Ah, e
a pena encontrada pelo nosso querido pescador ficará guardada para quem sabe um
dia comprovar a existência deste belo animal em nosso Pantanal.
Caminho para o Rio Jaurú-MT
PARNA do Pantanal - MT
Chegamos ao Parque Nacional do Pantanal, a expedição encontrou funcionários
do parque, que se dedicam a proteção integral deste isolado e importante local.
A expedição fez questão de registrar esse interessante encontro, com essas
diferentes situações em que vive o Pantanal hoje. Este bioma está com mais de
80% da planície preservada por causa do estilo de vida e do jeito pantaneiro de
ser, além das pessoas que adotaram este local como sua casa, protegendo-o e
amando-o sem pedir nada em troca. E nós, com saudades, nos despedimos,
esperando um dia poder voltar e conseguir mais pistas e respostas sobre este
misterioso Urubu.
Fonte: Google / Portal do Pantanal / PUB / IHP / Polícia Militar Ambiental do MS / CBRO / IBAMA
Agradecimentos: EBX / Cadu Amorim / Ecoa / Indios Guató / Seo Waldemar / Seo Chico / Coronel Ângelo Rabelo
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